Soltar a culpa que imputamos a nossos pais
- Débora de Cássia Martins
- 28 de dez. de 2021
- 2 min de leitura
Você já pensou em culpar uma pessoa surda por não entender o que você diz? Não soa algo sem sentido? Como podemos culpar essa pessoa sendo que ela não ouve? Mas, às vezes, acabamos fazendo isso com nossos pais.
Sei como são doloridas as marcas que recebemos de nossos pais. Dói olhar nossa infância e ver que faltou amor, espaço para criar e construir, espaço para falar aquilo que estávamos pensando. Fomos tolhidas das mais diferentes formas, cerceadas no nosso pensar e muitas vezes vivemos o abuso de poder com as figuras mais importantes da nossa vida. Dependendo da forma como encaramos esses fatos da vida podemos entrar no caminho de culpar nossos pais por aquilo que nos aconteceu e pelas dores que trazemos até hoje, justificando os nossos tropeços em base da tratativa que recebemos.
Assim como o exemplo da pessoa surda, nossos pais tiveram que trabalhar com as ferramentas (e a falta delas) da forma como podiam. Talvez eles tivessem apenas um martelo porque nunca receberam (ou conseguiram adquirir) uma parafusadeira. E, às vezes, o martelo foi o melhor que eles conseguiram fazer com a faca cega que receberam dos pais deles. Percebe? As ferramentas vão passando de geração em geração e se atualizando conforme a tecnologia da época.
Nós vamos pegar o martelo dos nossos pais e vamos construir algo com isso. E esse algo não vai ser perfeito, haverá lacunas (muitas até). E nossas filhas vão pegar e construir algo diferente, mas com lacunas também.
Eles não tiveram culpa do martelo que tinham em mãos, foi a ferramenta possível para aquele momento. Da mesma forma como não temos culpa se temos uma chave de fenda para oferecer as nossas filhas. Porém, eles e nós somos responsáveis por isso que podemos ofertar, mas sem culpa.
Ficar em base de culpar nossos pais pode ser uma maneira de nos manter sempre crianças, esperando que alguém venha e "conserte" a nossa vida, as nossas experiências. Assumir as responsabilidades faz parte da vida de adulto. Cada um tem seu caminho e precisamos aprender a trilhá-lo sem ficamos à espreita de culparmos o passado ou as pessoas que compartilham de sua existência com a gente.
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