Não acredito em autoconhecimento
- Débora de Cássia Martins
- 28 de dez de 2021
- 2 min de leitura
Mesmo sustentando a posição de analista e analisanda não acredito em autoconhecimento. Não no autoconhecimento com um sentido acabado e finalizado, em que se sabe sabe tudo de si e mais um pouco.
Kant diz que certas ideias não possuem referentes que possamos conhecer, mas apenas conceber. Como Deus, o Infinito, o Belo, o Bem. Eles não podem ser conhecidos, mas concebemos ideias sobre. E eu - com pretensão - incluo o Homem.
Sobre o Homem [e sobre si mesmo] criamos teorias, rótulos e encaixes. Damos nomes, número de CPF e até um número na lápide. Diante de números, teoremas e compêndios dizemos que conhecemos.
- Não me envolvo com Sinhazinha porque conheço esse tipinho. - ouvimos quase diariamente.
- Olha doutor, meu caso mesmo é Depressão Maior com TDAH. - escutamos na sala de espera.
Conhecemos mesmos? Sabemos tanto assim? Ou tudo não passa de um medo lascado que temos de enfrentar o desconhecido que habita o Outro [e a nós mesmos]? É por isso que supomos conhecer?
Se pudermos ver a vida em sua multiplicidade de vértices, veremos que a vida não é binária [zero ou um] e que sob um mesmo ponto há uma variedade de lados possíveis de serem olhados. E, cheque mate! São tantas nuances que uma pessoa encerra em si que é uma missão impossível se autoconhecer nessa vida. O que fazemos é conjecturar pensamentos sobre si, hipóteses que vão nos dando repertório para recontar a nossa própria história, palavras que vão ocupando lugares vazios, mas que vão se alternando e se alterando ao longo do caminho.
E no fim, nunca saberemos sobre nós mesmos [e diga mais sobre o outro!], apenas conceberemos ideias de quem, supostamente, achamos ser.
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