Nem sempre somos nós o problema da equação
- Débora de Cássia Martins
- 28 de dez. de 2021
- 1 min de leitura
Há alguns dias meu pai me deu um cacho de banana ainda verde. Com alguns dedos fiz biomassa para usar como patê. As demais amadureceram. Delas fiz a casca refogada com berinjela e os dedos congelei; o que originou um sorvetinho com maracujá.
Esse processo me levou a refletir quantas das vezes nos relacionamos com o Outro pautados numa perfeição. Se o Outro está verde não serve, tem que esperar ficar maduro. Se amadurece demais está fora do ponto, tbm não serve. Queremos do Outro o ponto “ideal”, talvez porque exigimos a priori, de nós mesmos, uma perfeição para sermos amados. Se estamos fora do ponto “ideal” ninguém vai querer ficar conosco. Estaremos a mercê de um descarte eminente.
Mas dói pra caramba pensar que não somos bons o bastante, que nossos estados de maturação não são apreciados. Fica mais leve tentar “resolver” o problema cobrando e excluindo quem está fora. Nutrimos a falsa sensação de que tudo ficará bem apontando o dedo para o Outro, já que o problema é Ele (e não eu).
Mas quer saber uma coisa? Nas mãos de uma pessoa que aprecia cozinhar, qualquer que seja o nosso estado de maturação, haverá beleza e uma receita especial (e gostosa) a ser preparada. Não é porque está verde ou madura demais que não “serve” ou porque tem pintinhas ou manchinhas que se altera o gosto no preparo. Basta quem entenda de comida.
O problema não é nosso estado de amadurecimento ou imperfeição, apenas que ainda não encontramos uma pessoa que reconheça a beleza e cozinhe com ela.
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