O Narcisismo do Analista
- Débora de Cássia Martins
- 28 de dez. de 2021
- 2 min de leitura
Quando a pessoa do analista ainda precisa muito da aprovação dos outros, do olhar reconhecedor do outro e de colocações para se assegurar esse amor, ele acaba vivendo pelo desejo do Outro. E a partir desse ponto o trabalho analítico pode tomar revéses estreitos e acabar entrelaçado em meio a conluios.
Às vezes essa necessidade de aprovação pode levar o analista a se comportar como "bonzinho" revelando uma dificuldade para pontuar questões ao analisando, estabelecer limites nas sessões, nos valores cobrados e limites necessários entre a dupla, chegando até o nível de bajulações entre a dupla. Não que o analista tenha que lidar com essa necessidade completamente (se é que isso é possível) para iniciar a clínica, mas - talvez - valha colocar essa questão em sua análise pessoal para um amadurecimento a tal ponto que consiga delimitar o espaço sem pré-ocupações daquilo que o analisando pode vir a pensar ou agir (parando a análise, por exemplo). Acredito que o amadurecimento dessa 'ferida' traz junto consigo a tolerância ao desconforto de não ter respostas diante do infinito do inconsciente do paciente e conseguir manter o silêncio durante o momento necessário, pois não há uma demanda interna de ter que agir conforme o desejo do outro. Ainda nesse ínterim outra questão que pode acometer o analista é adentrar a clínica com o pensamento de "ajudar" o analisando. Esse discurso é fácil de ser ouvido nos cursos que envolvem a saúde mental, ditas por pessoas bem intencioanadas, que às vezes tratam a Psicanálise como bom samaritanismo ou coisa similar. A única questão desse desejo é que na prática não funciona. Esse desejo de "ajudar" me fala mais da necessidade de reconhecimento e de ser amado, de mostrar ao analisando que pode tirá-lo da amargura daquilo que o faz sofrer - mas que acaba colocando o analisando numa posição de servidão eterna pela ajuda 'prestada'. Tal atitude denuncia uma posição arrogante do analista que menospreza as capacidades que o analisando traz consigo para resolução e autorresponsabilização - O analisando precisa da 'minha' ajuda para saber o que é melhor para si.
Ora, o analista não é um tipo de deus, nem possui bola de cristal. Agir a priori dessa forma é uma tentativa de colonização do paciente, é colocar o analisando dentro do desejo do analista, colonizando-o.
Diante de minhas conjecturas e experiências não há como ajudar o analisando. O máximo que podemos oferecer é um ambiente saudável e nosso psiquismo já trabalhado. Ofertar o nosso melhor. Só o analisando sabe o que é melhor para si e o que não o é, só ele pode se ajudar.
Me antevendo a uma possível questão se é possível trabalhar esse desejo do reconhecimento, direi com todas as letras cabíveis de que a proposta da psicanálise vincular é justamente tocar esse ponto. Trabalhando o aspecto de um ambiente saudável entre a dupla, proporcionando ao analisando uma expansão dos seus elementos e o reconhecimento necessário para adquirir capacidades que ora se ateve a percalços no curso de seu desenvolvimento.
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