Fazemos análise para que, afinal?
- Débora de Cássia Martins
- 28 de dez. de 2021
- 2 min de leitura
É difícil, se não impossível, falar sobre a finalidade da análise, porquanto, cada pessoa que adentra a uma sala de análise leva consigo suas necessidades próprias e pessoais que serão (ou não) vivenciadas no percurso. Porém, penso. E nesse pensar um dos possíveis "afinal" que conjecturo é como propõe Ogden (2010) que muitas vezes o paciente procura a análise não para ser analisado, mas para ter contato com uma pessoa que ajude a recontar sua história e a dividir a angústia que lhe aflige. E é a partir dessa possibilidade de reedição de um vínculo parental-interpessoal-intrapessoal que sustento a minha clínica e teço esse texto.
Há quem chegue no consultório em busca de respostas, e talvez iniciem a análise atrás de um suporto saber que vai resolver todos os conflitos que se carrega. Pode ser mesmo que esse seja o principal motivo, mas no decorrer do processo isso não se sustenta. E não sustenta porque percebemos que não há uma resposta que resolva o dilema, o que fazemos é construir hipóteses que se aproximam do sentimento e que fazem sentido à pessoa; se é de fato isso (a hipótese proposta) que ocorreu ou ocorre, não importa, o objetivo é que a hipótese traga a possibilidade de uma ressignificação, de uma polissemia para o enredo que se conta internamente. Se o enredo é unilateral o sofrimento se instala, pois se fica preso apenas a uma versão dos fatos, que muitas vezes não condizem com o contexto ou que causam dores significativas. Nesse caso, o analista entra como um terceiro, que olha de fora e por outros vértices a questão dolorida.
Mas o saber por si só não é o bastante para sustentar o investimento na análise. Se fosse só o saber bastaríamos ler os compêndios de psicanálise e estaria resolvido. Permanecemos no divã, numa posição muitas vezes desconfortável. Queremos de fato saber? A realidade quando bate na nossa porta traz o ar gélido e fugimos buscando os lugares quentes da ilusão, dia após dia. Entrar em contato com ela dói, e não somos seres que buscam o desconforto.
Não queremos o saber mumificado de nossa história, queremos, tal como um gatinho recém-abrigado, um colo quentinho, leite morno e carinho. Queremos alguém que nos testemunhe, para termos a certeza de que ao fechar dos nossos olhos quem fomos ficou marcado na tábua do coração de alguém. Buscamos por um ouvido que nos escute e por olhos que nos vejam. Buscamos por respeito.
E ficamos. Ficamos na análise movidos pela esperança, pela fé da relação vincular gerar frutos doces e aprazíveis. Ficamos tecendo a esperança de nosso olhar ser tingido por cores um pouco mais vibrantes que o opaco dos óculos que usamos. Ficamos e esperamos. Sem garantias, sem certezas, mas com a fé e a pulsão de vida que move a vida como um todo.
Comments