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Da Psicanálise Intocável

  • Foto do escritor: Débora de Cássia Martins
    Débora de Cássia Martins
  • 28 de dez. de 2021
  • 2 min de leitura

Algumas linhas psicanalíticas são tão belas, tão robustas, tão elaboradas que chegam a ser intocáveis. E o que fazemos com coisas intocáveis? A mantemos em lugares próprios que a confiram seu ar de sacralidade e seu quê de êxtase, tal como as obras clássicas que ficam nos museus e nas galerias sob proteção. Não há nada de mal com a arte e com o belo, é preciso que a beleza exista em paralelo com o ordinário da vida, para que possamos nos deleitar, descansando os olhos e as vistas. Contanto, quando dou de frente com isso, vejo que as belas teorias servem para o deleite daqueles que a construíram e fica num patamar inconcebível para quem realmente pode desfrutar dela. Aí colocamos a psicanálise num pedestal que serve para aumentar as fantasias infantis de que há quem saiba de tudo e que aquilo que é intocável é mais valioso.

Quando chegamos nesse nível o saber da psicanálise se torna elitista porque não é qualquer pessoa que vai entender o que está sendo dito (me questiono se o próprio psicanalista sabe o que esta falando ou apenas repetindo palavras bonitas para manter a posição intocável), nem qualquer pessoa vai se sentir a vontade para conjecturar olhar a beleza que encerra essa arte. Aqui podemos pensar na passagem bíblica em que Deus se apresenta para Moisés, mas que o esplendor da sua majestade ofusca os olhos do servo. Ninguém pode ver Deus face a face. E, talvez, seja esse lugar de Onipotência e majestade que encerra tais linhas psicanalíticas. Contanto, o intocável nos inspira, mas não se aproxima da vida ordinária.

Me lembro do livro "A sabedoria da Natureza" do Roberto Otsu e da imensa beleza e profundidade que ele consegue abordar a vida cotidiana com o Taoísmo. Não há nada de difícil para entender, nada de prolixo que se precise de dicionários ao lado para buscar os significados. Nadinha. Há apenas as relações humanas e as dificuldades que passamos ditos de uma forma tão profunda que chega a ser absurdamente simples, o que me leva a pensar que falar difícil pode ser um esconderijo para não mostrar a falta de profundidade do que se sabe.

Para mim, essa psicanálise serve para o deleite, mas não toca e nem atinge o cotidiano. Não toca o cerne, não causa borboletas no estômago, não dá água na boca. E eu não tenho muito interesse nela. Gosto mesmo e do café com queijo que é disponível, do feijão com farinha que mata a fome, da farinha de milho que é versátil. Isso é cotidiano. É uma psicanálise que se aproxima do ordinário e dá ferramentas para que o sujeito construa algo com o que se tem, inventando, criando e recriando. Por mais que o belo nos impressione e nos tire o fôlego, ele não mata nossa sede e nem constrói pontes nas margens dos rios que precisamos atravessar.

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