Análise do Filme Cisne Negro
- Débora de Cássia Martins
- 28 de dez. de 2021
- 3 min de leitura
Cisne Negro é um longa de 2010 dirigido por Darren Aronofsky mostrando a trajetória de Nina Sayers, bailarina perfeita que anseia pelo papel de Rainha do Cisnes, porém seu desafio é conseguir dar vida para o lado Negro do cisne, uma vez que desempenha com maestria o Cisne Branco.
Nina é perfeita, um doce de menina - embora seja uma mulher - e busca a perfeição na dança. Mora com a mãe, tem seu quarto com ursinhos de pelúcia, é tratada como uma criança impotente pela mãe e falta coragem para lutar por aquilo que quer. Na relação com a mãe vemos uma simbiose e um comportamento narcisista da mãe que a tem como uma extensão de si. Outrora foi bailarina e abdicou da carreira para cuidar da filha, que hoje perfaz o mesmo caminho da mãe em uma companhia de balé. Não há privacidade entre as duas, a mãe cuida das unhas, não há chave na porta do quarto de Nina, a mãe controla os horários da filha e age com chantagem diante das vontades de Nina que vão contra ela. Nina não tem espaço para os seus desejos e para novas descobertas, a imagem da mãe domina sua psique e sua vida.
Diante da possibilidade de conseguir o papel principal Nina é confrontada por Thomas, o diretor do balé, que a convoca a mostrar a agressividade e os desejos que moram dentro dela para encarnar o Cisne Negro. Thomas a convoca a tomar posse de si, a se individuar**, a permitir que seus aspectos bons e maus se integrem e possa, assim, atingir a perfeição. E esse passa a ser o conflito de Nina. Quando ela percebe seus impulsos destrutivos ela se autos sabota e se pune; busca fugir do contato com sua sombra**, mas o processo já está em curso como vemos na pele das costas, dedos e unhas machucadas. O sangue, aquele que mancha o branco e o puro, impulsiona por uma saída.
Lily, uma bailarina novata, chega à companhia já com os olhares de Thomas a tendo como substituta de Nina e com todas as características para o Cisne Negro. A partir desse encontro é que Nina vai se ver frente a frente com sua sombra, seus desejos, sua agressividade. Ela vai encontrando naquilo que esconde dos outros a força para pôr um limite em sua mãe e experienciar em sua pele as pulsões de seus desejos. Mas tudo isso se dá em base de um conflito interno em que ela precisa matar parte de seu lado bonzinho para que emerja a sombra e isso desembocando em uma integração de sua personalidade.
Na apresentação vemos a evolução e o conflito de Nina nos Três atos. No primeiro ato está a boa menina, obediente, que não têm contato com sua força interna e diante de uma ameaça se prostra frágil. Indo para o segundo ato Nina permite deixar de lado sua parte boazinha e trás à tona sua sombra com toda a força permitindo uma integração (calça branca e colam preto) ao se transformar no Cisne Negro encarnado. O terceiro ato retrata a ruptura com a mãe e com a imagem que ela tem de si. O sangue na roupa branca simboliza a passagem da cisão para a integração.
**Os termos individuação e sombra são da Psicologia Analítica de Jung. Na psicanálise esses termos tomam outros nomes e dimensões, mas quis me manter nessa linha proposta para pensar a sombra e a integração.
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